Sabe quando você compra uma blusa cara, com tecido, acabamento e qualidade bacanas, mas quando vai usá-la sua vida vira um pesadelo por causa da etiqueta que não para de pinicar? O mesmo acontece com o som, quando por exemplo as empresas de serviço não param de ligar pra gente, abusivamente. Nomeei esse fenômeno de assédio sonoro. Por isso a importância de pensarmos cuidadosamente o Sound UX, a experiência sonora do usuário na interação com as marcas e produtos.

Da voz da AI (inteligência artificial) à campainha de casa, passando pelo som da ré que avisa os limites do carro, o som do micro-ondas e outros sons que permeiam nossa vida, fazem parte da experiência sonora do usuário. Ela pode ter uma navegação fácil, fluida, gostosa, rápida, útil e intuitiva. Mas nem sempre é assim, e há marcas incomodando as pessoas sem saber.

É urgente que as empresas acordem para o impacto sonoro que estão causando. Elas comprometem sua reputação com comportamentos, sons e vozes desagradáveis que irritam seus clientes sem saber. Se bem desenhado, a maior força que o som aporta para a comunicação é a conexão afetiva que ele proporciona.

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O que as pessoas realmente compram?
O que é capaz de entregar mais afeto e experiência?

No momento em que compramos um carro, compramos a lataria ou a funcionalidade, a experiência que o carro nos agrega? Quando vamos a um restaurante, compramos a comida ou toda a experiência do som, aromas, sabores, serviço e atendimento? Estamos comprando afetos o tempo todo e não as coisas em si.

O som é a própria experiência, é sua função mais primordial. Ele emite vibrações que através da ressonância afeta nossos corpos, nosso ritmo, nossas emoções e nossas ondas mentais. Ele impacta nossa existência. É exatamente o que acontece quando ouvimos a voz de um robô, os sons de um app no celular, as maquinas de autoatendimento, todos esses sons que a marca veicula estão impactando nossas vidas, provocando mil sensações e percepções conscientes ou inconscientes.

Se o som tem todo esse poder, ele precisa ser cuidadosamente desenhado, uma vez que eles ficam inevitavelmente associados à marca. O Sound Branding é a disciplina que desenha o Sound UX pra que a gente desenvolva afetos positivos com as marcas.

O som é o melhor gerador e transmissor de afetos!

A marca que melhor usar o som será a mais eficiente em estabelecer conexão afetiva com seus públicos. A conexão afetiva promove alegria e pessoas felizes compram mais. Uma vez elas tendo uma boa experiência a chance de se fidelizarem é enorme.

Para que essa avenida de conexão entre pessoas e marcas fique livre e fluida, organizei quatro categorias de experiências sonoras dos usuários:

Sound UX Creation Process

O Sound UX desenha a navegação em quatro tipos de ambientes:
Digital – Presencial – Analógico – Pessoal

Sound UX Digital

O meio digital é o meio nativo do Sound UX. Foi aí que surgiu a necessidade de se pensar a jornada do som, onde ficou claro que ele afeta e pode ajudar ou inviabilizar a navegação. Os sites foram os primeiros espaços digitais de marca. No inicio, o som era usado aleatoriamente pelos webdesigners. Por isso, criou-se o hábito de deixar o volume desligado.

Depois, vieram os apps dos celulares com interações sonoras importantes para a usabilidade. Não menos importante, a URA (atendimento telefônico) é onde a navegação sonora é crucial para o sucesso das operações. As máquinas de autoatendimento (ATM) se encontram em espaços físicos, mas são equipamentos digitais. As redes sociais, Youtube, Spotify, TV e podcast são meios sociais onde o som entra para encantar e envolver os públicos.

Os sons do iPhone dão a certeza que o e-mail foi enviado, que o arquivo foi pro lixo ou que o teclado está escrevendo. São simpáticos, agradáveis, que comunicam e conduzem a experiência do usuário, provocando sensações positivas como segurança, credibilidade, experiência estética e intimidade, pois além de tudo o som também aproxima. E como te impacta a voz da Siri? Tem pessoas se divertindo com ela, mas já já essa comunicação vai ser assustadoramente aperfeiçoada.

Sound UX Presencial

O mesmo raciocínio de navegação pode ser aplicado aos espaços físicos onde o som conduz e ambienta a experiência. Uma pessoa caminhando no metrô, shopping ou loja, vive uma jornada de vídeo game real, onde o som interfere no seu comportamento através das mensagens dos auto-falantes; do jeito de falar e timbre da voz das locuções; das vinhetas e avisos; da velocidade que a música ambiente provoca nos nossos corpos; da paisagem sonora (soundscape) que desperta segurança.

Outras presenças maciças diárias são os eletrodomésticos, carros e equipamentos. Imaginem o secador de cabelo no banheiro, o liquidificador na cozinha, o brinquedo eletrônico na sala e o carro buzinando na porta. Ouviu a cena? Perturbador, não acha?

O conjunto de sons produzidos pelas fábricas desenha arbitrariamente o ambiente mais ruidoso do planeta: as nossas casas! Mas as coisas mudam, podemos repensar o Sound UX dos nossos espaços a nosso favor.

Sound UX Analógico

Como já prevíamos, o meio analógico diminuiu e boa parte dele foi substituída pelo digital. Quando o rádio chegou, achava-se que o jornal impresso acabaria. Quando a TV chegou, achava-se que o rádio acabaria. Quando a internet chegou, achava-se que a TV acabaria. Agora que a inteligência artificial chegou, há quem diga que a gente vai acabar 😄, ou seremos substituídos. Até aqui, nenhum meio nem ninguém acabou. As mídias perderam a predominância e dividem espaços agora.

O Sound UX analógico segue presente no rádio, meio exclusivamente auditivo que, através da sua plástica sonora, spots, vinhetas, locuções, trilhas e vozes, informa e desenha a experiência do usuário nesse meio. O cinema acontece presencialmente em suas salas. A rádio customizada nas lojas, compostas pela música ambiente, mensagens e vinhetas são meios onde o varejo informa e dá o tom da experiência.

Um exemplo clássico é o lendário plim-plim da TV Globo. Mais recentemente, a radio Band News se tornou bastante reconhecida pelo uso consistente das suas vinhetas e logotipos sonoros. Não há forma mais eficaz de sabermos que estamos na estação que queremos do que ouvindo seus sons e suas vozes

Sound UX Pessoal

É sobre a gente. Como estamos navegando nossos satélites sonoros? Como usamos o volume da nossa voz? Estamos emitindo sons agradáveis ou perturbando os vizinhos? Como anda nossa playlist? Mantemos sempre a mesma música que nos leva a estados conhecidos, ou buscamos sonoridades que nos provocam novas emoções e afetos diferentes? O Sound UX Pessoal me interessa particularmente, pois a soma dos sons de cada um de nós desenha a sinfonia ruidosa do planeta Terra. Não há raça em todo universo que consiga evoluir imersa no barulho.

Zanna no processo de criação de Sound UX

O que devemos pensar na hora de criar o Sound UX?

Mapeei abaixo 7 atributos do Sound UX que precisam ser considerados na hora de desenvolvermos os projetos:

Estética sonora
precisa ser bonito, atraente, gostoso de ouvir;
Criatividade
interessante, interativo, divertido ou inusitado;
Utilidade
sinalizar as etapas da operação ao usuário;
Acessibilidade
permitir interação a pessoas com deficiência;
Credibilidade
confirmar a realização das etapas do início ao fim;
Intuitividade
deixar a experiência fluida;
Intimidade
desenhar cuidadosamente e estabelecer proximidade.

Você não acha tudo isso muito novo?

Estamos falando de futuro! Estamos engatinhando no entendimento das possibilidades poderosas e ainda desconhecidas que o som oferece em todos os campos da sociedade e no desenvolvimento humano. Na educação, nas religiões, em todos os rituais sociais, cívicos, religiosos e tradicionais… Não há celebração possível sem música. Nosso futuro vai ser muito impactado e conduzido pelo som.

Quer saber mais sobre Sound UX, a experiência sonora do usuário? Fala com a gente!

O que é Music Branding e como ele ajuda na gestão da marca?